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domingo, 4 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11903: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (4): Um tiro numa cabra de mato... que deu direito a um prémio Governador Geral


1. Mais uma estória do David J. Guimarães, passada no Xitole, nos primeiros tempos da comissão da CART 2716 (1970/1972), e que andava perdida na I Série do nosso blogue:


Um dia, novinhos ainda, piras, com as fardinhas novinhas em folha, aí vamos nós. Sai o 1º Grupo de Combate. Patrulha em volta do aquartelamento para os lados de Seco Braima, o que era normal: acampamento IN....

Era bem de manhã. E a certa altura, zás, ouve-se o matraquear de espingardas automáticas:
Que coisa!... Oh diabo, estão a enrolar…

Os morteiros fixos lá fazem fogo de barragem. Novamente os experientes homens de armas pesadas. E que eficientes! Como eles faziam aqueles morteiros dispar tão amiúde e certeiro... Cessar fogo, tudo silêncio à volta, fora os abutres que logo foram ver o que acontecia.
─  Que aconteceu? E agora... Estará alguém ferido? O que aconteceu? O que vamos fazer?

Nenhum deles disse nada... mas voltaram depressa. E nós nem percebíamos ainda porque que é que eles voltaram assim tão rapidamente... Bem, lá regressa, da patrulha, o 1º Grupo de Combate. Ofegantes, e agora dentro do aquartelamento esboçando sorrisos, todos pretos... Que coisa, sempre que havias tiros ficava-se todo preto!
─  Que aconteceu ???

Lá vem a explicação: o grupo estava a instalar-se, para um tempinho em posição de emboscada. Uma cabra de mato passa em frente... Um soldado diz para o Alferes muito baixinho:
─  Alferes, cabra de mato!
─ Atira-lhe ─  responde o Alferes ─  Há rico tiro, pum, pum!!!

E não é que o IN estava lá emboscado, do outro lado da cabra? Seriam poucos, mas ao sentirem-se detectados deram uns tiros e fugiram, pois que entretanto também começaram a cair bem perto as granadas do morteiro do aquartelamento...
─  Manga de cu pequenino…

Olha que sorte, a santa cabra do mato!... Foi ela, afinal, o nosso anjo da guarda. O Correia voltou com o seu grupo de combate inteiro e o soldado que detectou a cabra... herói. Mais tarde foi-lhe proposto e concedido o prémio Governador Geral. Todos achámos muito bem, veio à metrópole. Se não fora assim, nunca iria lá de férias, porque não tinha dinheiro para isso...

Ninguém soube se a cabra morreu ou não, mas os homens, depois de contados, estavam todos... E os abutres também voltaram ao aquartelamento e continuaram a comer o que restava da vaca morta nesse dia...

A guerra tinha disto também, e ainda bem... Como entendê-la? Só um combatente... Este era o nosso tempo de recreio de guerra dentro da guerra.

David J. Guimarães
_________

Nota do editor:

Último poste da série > 12 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11556: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (3): Era do caraças o paludismo

quarta-feira, 2 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7888: A minha CCAÇ 12 (13): Janeiro de 1970 (1): assalto ao acampamento IN de Seco Braima e captura de Jomel Nanquitande (Luís Graça)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca)  > Carta do Xime (1961) (1/50000) > Excerto: A posião relativa de parte dos subsectores de Mansambo e Xime, com destaque para a península de Galo Corubal - Satecuta - Seco Braima (ou Darsalame), na margem direita do Rio Corubal,  à direita da estrada Mansambo - Ponte do Rio Jagarajá - Ponte dos Fulas - Xitole... Da ponte do Rio Jagarajá até Satecuta, junto ao Rio Corubal não são mais do que 8 quiómetros em linha recta... Nesta operação, partiriam às 9h00 da amanhã, com um intervalo às 12h00 para descanso e pernoitando às 17h00 num trilho que conduzia a Galo Corubal, para prosseguirem às 3h30 da manhã para Satecuta e, por fim, Seco Braima, acampamento que foi assaltado, já de manhã, cerca das 7h00... A toque de caixa, no regresso, chegariam ao ponto de partida por volta das 13h00... com gente esgotada e desidratada, mais um prisioneiro, combatente (que dali a uma semana levaria a CCAÇ 12 a embrulhar de novo, explorando informações obtidas do seu interrogatório em Bambadinca: Op Borboleta Destemida). Em geral, ia-se uma vez por ano a esta península, na época seca, e com efectivos entre 200 a 250 homens (3 destacamentos), além de apoio da FAP e da artilharia (Mansambo)... (LG)





Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CCAÇ 2404 (1969/70) > Aspectos do aquartelamento construído, de raíz, pela CART 2339 (1968/69). Diversas operações em que esteve envolvida a CCAÇ 12 (1969/71)  começavam aqui... Foi o caso da Op Navalha Polida, de assalto à base do PAIGC de Satecuta, na margem


Fotos: © Arlindo Teixeira  (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados




A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*), por Luís Graça



(7) Janeiro de 1970: 3 assaltos a objectivos IN

Durante o período de Janeiro a Abril de 1970, coincidindo com a época seca, a CCAÇ 12 desenvolveria uma intensa actividade operacional ofensiva, realizando:



(i) 7 operações a nível de Batalhão (das quais 6 com contacto): por exemplo, Op Navalha Polida, Op Borboleta Destemida e Op Safira Única, só em Janeiro de 1970.


(ii) 3 operações a nível de Companhia (uma com contacto e as outras com vestígios do IN);


(iii)  e ainda 10 acções, além da actividade de rotina (Missão do Sono, Mato Cão, Ponte do Rio Udunduma, tabancas em auto-defesa, colunas logísticas...).


(7.1) Op Navalha Polida: assalto imediato ao destacamento IN de Seco Braima, junto ao Rio Corubal, no subsector do Xitole





Em 2 de Janeiro de 1970, às 5h00, dava-se início à Op Navalha Polida para uma batida à região de Galo Corubal-Satecuta-Seco Braima, e em que participaram mais de 200 homens:  3 Gr Comb da CCAÇ 12 (Dest A), além de forças da CCÇ 2404, a 2 Gr Comb   (Dest B) e CART 2413, a 2 Gr Comb  (+) (Dest C),  estas duas últimas sediadas, respectivamente, em Mansambo e Xitole.

Sabia-se, em consequência da Op Lança Afiada (**), que o IN ocupava a península de Galo Corubal-Satecuta cujas bolanhas eram cultivadas por uma numerosa população de balantas e beafadas.

Mais recentemente um RVIS efectuado pela Força Aérea e uma emboscada que 1 Gr Comb da CART 2413 (Xitole) sofreu entre o Xitole e a Ponte dos Fulas, viriam confirmar a existência de 1 bigrupo naquela área.

A missão das NT era bater a península de Galo Corubal-Satecuta-Seco Braima, procurando aniquilar os elementos IN armados, aprisionar a população e destruir todos os meios de vida.

Desenrolar da acção:

Os 3 Destacamentos encontraram-se por volta das 9h00 perto da ponte sobre o Rio Jagarajá, na estrada Mansambo-Xitole, tendo iniciado imediatamente a progressão a corta-mato em direcção ao objectivo. Por volta das 12h00, fizeram um descanso em (Xime 4B5-5C)



Pelas 17h00 atingiram o local de pernoita (Xime 4A8-48), tendo-se emboscado junto a um antigo trilho que conduzia a Galo Corubal. A instalação foi feita de forma a conseguir-se apoio mútuo entre os três Destacamentos e a neutralizar uma eventual acção de surpresa do IN.

No dia seguinte, às 3h30, os Dest B e C iniciaram, de maneira vagorosa e cautelosa (devido às dificuldades do terreno (capim alto, vegetação densa) o movimento em direcção a Satecuta. E uma hora mais tarde o Dest A (CCAÇ 12) começou a deslocar-se para a região de Seco Braima, tendo ouvido por volta das 7h00 ruídos do pilão e vozes humanas.

Dirigindo-se imediatamente nessa direcção, o Dest A [CCAÇ 12] teve de cambar um curso de água, utilizando uma ponte submersível feita de troncos de cibe, deixando então de ouvir as vozes por se encontrar numa baixa.

Entretanto, o 4º Gr Comb ficava emboscado junto ao ponto de cambança. Continuada a progressão ao longo da margem, ouviram-se de novo vozes. Feita a aproximação de maneira cautelosa, verificou-se que havia ali um destacamento avançado do IN que deveria constituir o dispositivo de segurança próxima da tabanca de Seco Braima.

Como era impossível qualquer manobra de envolvimento sem ser detectado, devido ao capim e à vegetação arbustiva, o Comandante do Dest A deu ordem para que os homens da frente fizessem um assalto imediato. O acampamento foi atacado à granada de mão, tendo-se ouvido gritos lancinantes de dor.

Apesar de surpreendido, o IN reagiu rapidamente com armas automáticas, ao mesmo tempo que retirava, levando dois corpos de arrasto (no terreno havia sinais de arrastamento de 2 corpos através do capim e vestígios de sangue).

Concentrando o fogo na direcção da retirada do IN, os 2 Gr Comb (1º e 2º ) do Dest A tomaram o acampamento que era constituído por 5 casas de mato. Feita a batida a zona, encontrou-se o seguinte material:

  • 5 granadas de RPG-2,
  • 1 carregador de Metralhadora Ligeira Degtyarev,
  • 2 lâminas de carregadores com 18 cartuchos,
  • além de vários utensílios e um balaio cheio de arroz.

Entretanto, já os Dest B e C tinham atingido o acampamento de Satecuta, de resto abandonado (há uma semana atrás, com vestígios de muitos trilhos recentes). Porém, devido aos rebentamentos que se ouviam da direcção de Seco Braima, alguns elementos IN, de passagem em Satecuta, foram alertados e na fuga seriam interceptados pelo Dest C [CART 2413] que abriu fogo sobre eles.



O  IN reagiu da vários pontos da mata. Na perseguição as NT fizeram um prisioneiro,  de nome Jomel Nanquitande, ferido, deixado para trás pelos seus companheiros, que no entanto recuperaram a sua arma. O seu ferimento não era grave, aos olhos de um tuga. Após uma semana de recuperação e de interrogatórios, o Jomel seria obrigado pelas NT a participar como guia para um assalto de mão ao acampamento IN de Ponta Varela que conhecia bem [, a sudoeste do Xime, na direcção de Madina Colhido]: Op Borboleta Destemida (CCAÇ 12, a 4 GR Comb + CART 2520, a 2 Gr Comb, operação realizada a 13 de Janeiro de 1970, e que descreveremos no próximo poste desta série).


Quase simultaneamente os 2 Gr Comb do Dest A em Seco Braima começariam a ser flagelados com canhão s/r e mort 82, instalados na margem esquerda do Rio Corubal, em frente de Ponta Jai. Foi entretanto pedido apoio aéreo e dada ordem de retirada pelo PCV. Enquanto os bombardeiros T 6 martelavam as posições do IN, as NT retiraram  ordenadamente.

Os 3 Dest encontraram-se na estrada Mansambo-Xitole, por volta das 13h00 do dia 3, tendo o Dest C seguido para o Xitole e os Dest B e A para Mansambo em coluna apeada (até à Ponte dos Fulas e ponte do Rio Bissari, respectivamente). Devido ao elevado cansado de alguns militares dos Dest A e B, foram recolhidos em viaturas no Rio Bissari.

Em resultado da acção das NT, o IN teve 2 mortos prováveis e vários feridos confirmados, além dum capturado.

Durante o mês de Janeiro o IN manifestar-se ainda nos subsectores de Xitole e Mansambo:

(i) a 19, montando 2 minas A/P, na estrada, das quais uma foi accionada por uma viatura, com rebentamento de pneu, e a outra detectada e levantada, verificando-se pela sua análise que estava completamente nova;

(ii) a 20, fazendo um pequeno grupo vindo do sul queimadas na região de Moricanhe  (antigo destacamento de milícias abandonado em meados de 1969, depois do ataque a Bambadinca em 28 de Maio desse ano);



(iii) a 21, flagelando (um grupo não estimado), de SW,  durante 30 minutos, o aquartelamento de Mansambo, com utilização de Mort 82, LGfog e armas automáticas, mas sem consequências para as NT; 


(iv) a 27, às 20h20, flagelando (um grupo não estimado), de NW e SW, durante 2 horas, o destacamento de Taibatá (Pel Mil 242), utilizando 2 Canhões s/r, 2 Mort 60 e LGFog, sem consequências.


No resto do Sector L1, houve ainda as seguintes acções IN durante o mês de Janeiro de 1970:


(v) Um grupo estimado em 15/20 elementos flagelou, de Norte e Oeste, em 5 de Janeiro, às 17h00, durante 20 minutos, o aquartelamento de Missirá (Pel Caç Nat 54 e Pel Mil 201), durante 20 minutos, com recurso a Mort 82, Mort 60, LGFog e armas automáticas, sem consequências;


(vi) Assalto a Nhabijão Bedinca (um das tabancas do aglomerado populacional de Nhabijões), em 7 de Janeiro, por volta das 20h30: um grupo não estimado, vindo do Cuor (a norte), raptou uma bajuda e uma mulher grande;


(vii) Um grupo não estimado emboscou as NT em Xime 3XC7-27, com Mort 82, causando 4 feridos ligeiros, em 14 de Janeiro, no decurso da Op Borboleta Destemida;


(viii) Flagelação, de oeste, durante 15 minutos, do destacamento de Finete (Pel Mil 202), no dia 17, às 18h15, com utilização de Mort 82, LGFog e armas automáticas, sem consequências;


(ix) A 19, uma viatura nossa accionou uma mina A/P, causando rebentamento de um pneu, em Xime 7C-3.


 ________________


Fontes consultadas:


História da Companhia de Caçadores 12 (CCAÇ 2590): Guiné 1969/71. Bambadinca: CCAÇ 12. 1971. Cap. II. 21-22.

História do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)

Diário de um Tuga 



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 Notas de L.G.


(*) vd. poste de 24 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7852: A minha CCAÇ 12 (12): Dezembro de 1969, tiritando de frio, à noite, na zona de Biro/Galoiel, subsector de Mansambo (Luís Graça / Humberto Reis)


(**) Vd. postes da I Série do nosso blogue:


15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII:Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli


9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXI: Op Lança Afiada (1969) : (ii) Pior do que o IN, só a sede e as abelhas


9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIII: Op Lança Afiada (1969): (iii) O 'tigre de papel' da mata do Fiofioli


14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal

terça-feira, 7 de março de 2006

Guiné 63/74 - P595: Assalto ao destacamento IN de Seco Braima, na margem direita do Rio Corubal (Janeiro de 1970, CCAÇ 12, CAÇ 2404, CART 2413)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Subsector do Xitole > 1970 > Forças da CCAÇ 12 (na foto, o 2º Grupo de Combate, dos furriéis milicianos Humberto Reis e Tony Levezinho) atravessando uma bolanha, a caminho da península de Galo Corubal-Satecuta, na margem direita do Rio Corubal. O Humberto vem atrás dos homens da bazuca e do lança-rockets (igual à dos páras). E, mais atrás, os 1ºs cabos (metropolitanos) Alves e Branco. Participei na operação, abaixo relatada, integrado desta vez no 4º Gr Combate. Como me dizia amavelmente o meu capitão Brito - era um gentleman! - , eu era o peão de nicas, o tapa-buracas, o suplente, o que substituía os camaradas furriéis doentes, convalescentes, desenfiados ou em férias... Não sei por que carga de água é que os psicotécnicos (ou os pides...) disseram que eu era bom para apontador de armas pesadas de infantaria. Como a CCAÇ 12 era uma companhia de intervenção, não tendo armas pesadas, eu tornei-me um polivalente, um pau para toda a obra ... (LG)

Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71). © Humberto Reis (2006).


Extractos de:
História da CCAÇ. 12: Guiné 1969/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores 12. 1971. Capítulo II. 22-23. (Documento policopiado, elaborado pelo ex-furriel mil Henriques, com a colaboração e a cumplicidade de muita gente, a começar pelo sargento Piça, mandado classificar como reservado pelo comandante da unidade e distribuído, à sua revelia, aos quadros metropolitanos, na véspera da sua rendição individual, em finais de Fevereiro e princípios de Março de 1971... Não creio que tenha sido nenhum crime de lesa-pátria...) (LG).

(7) Janeiro de 1970: 3 assaltos a objectivos INDurante o período de Janeiro a Abril de 1970, coincidindo com a época seca, a CCAÇ 12 desenvolveria uma intensa actividade operacional ofensiva, realizando 7 operações a nível de Batalhão (das quais 6 com contacto), 3 operações a nível de Companhia (uma com contacto e as outras com vestígios do IN) e ainda 10 acções, além da actividade de rotina.

(7.1) Op Navalha Polida: assalto imediato ao destacamento IN de Seco Braima
Em 2, às 5h00, dava-se início à Op Navalha Polida para uma batida à região de Galo Corubal-Satecuta-Seco Braima, e em que participaram 3 Gr Comb da CCAÇ 12 (Dest A), além de forças da CCÇ 2404 (Dest B) e CART 2413 (Dest C), [estas duas últimas sediadas, respectivamente, em Mansambo e Xitole].

Sabia-se, em consequência da Op Lança Afiada (1), que o IN ocupava a península de Galo Corubal-Satecuta (2) cujas bolanhas eram cultivadas por uma numerosa população de balantas e beafadas.

Mais recentemente um RVIS efectuado pela Força Aérea e uma emboscada que 1 Gr Comb da CART 2413 sofreu entre o Xitole e a Ponte dos Fulas, viriam confirmar a existência de 1 bigrupo naquela área.

A missão das NT era bater a península de Galo Corubal-Satecuta-Seco Braima, procurando aniquilar os elementos IN armados, aprisionar a população e destruir todos os meios de vida.

Desenrolar da acção:

Os 3 Destacamentos encontraram-se por volta das 9h00 perto da ponte sobre o Rio Jagarajá, na estrada Mansambo-Xitole, tendo iniciadoimediatamente a progressão a corta-mato em direcção ao objectivo.

Pelas 17h00 atingiram o local de pernoita, tendo-se emboscado junto a um antigo trilho que conduzia a Galo Corubal. A instalação foi feita de forma a conseguir-se apoio mútuo entre os Dest e a neutralizar uma eventual acção de surpresa do IN.

No dia seguinte, às 3h30, os Dest B e C iniciaram o movimento em direcção a Satecuta. E uma hora mais tarde o Dest A começou a deslocar-se para a região de Seco Braima (3), tendo ouvido por volta das 7h00 ruídos do pilão e vozes humanas.

Dirigindo-se imediatamente nessa direcção, o Dest A [CCAÇ 12] teve de cambar um curso de água, utilizando uma ponte submersível feita de troncos de cibe, deixando então de ouvir as vozes por se encontrar numa baixa.

Entretanto, o 4º Gr Comb ficava emboscado junto ao ponto de cambança. Continuada a progressão ao longo da margem, ouviram-se de novo vozes. Feita a aproximação de maneira cautelosa, verificou-se que havia ali um destacamento avançado do IN que deveria constituir o dispositivo de segurança próxima da tabanca de Seco Braima.

Como era impossível qualquer manobra de envolvimento sem ser detectado, devido ao capim e à vegetação arbustiva, o Comandante do Dest A deu ordem para que os homens da frente fizessem um assalto imediato. O acampamento foi atacado à granada de mão, tendo-se ouvido gritos lancinantes de dor.

Apesar de surpreendido, o IN reagiu rapidamente com armas automáticas, ao mesmo tempo que retirava, levando dois corpos de arrasto (no terreno havia sinais de arrastamento de 2 corpos através do capim e vestígios de sangue).

Concentrando o fogo na direcção da retirada do IN, os 2 Gr Comb (1º e 2º ) do Dest A tomaram o acampamento que era constituído por 5 casas de mato. Feita a batida a zona, encontrou-se o seguinte material:

5 granadas de RPG-2,
1 carregador de Metralhadora Ligeira Degtyarev,
2 lâminas 18 cartuchos,
além de vários utensílios e um balaio cheio de arroz.

Entretanto, já os Dest B e C tinham atingido o acampamento de Satecuta, de resto abandonado. Porém, devido aos rebentamentos que se ouviam da direcção de Seco Braima, alguns elementos IN, de passagem em Satecuta, foram alertados e na fuga seriam interceptados pelo Dest C [CART 2413] que abriu fogo sobre eles. 0 IN reagiu da vários pontos da mata. Na perseguição as NT fizeram um prisioneiro que ficara para trás, ferido.

Quase simultaneamente os 2 Gr Comb do Dest A em Seco Braima começariam a ser flagelados com canhão s/r e mort 82, instalados na margem esquerda do Rio Corubal, em frente de Ponta Jai. Foi entretanto pedido apoio aéreo e dada ordem de retirada pelo PCV. Enquanto os bombardeiros T 6 martelavam as posições do IN, as NT retiraram mas ordenadamente.

Os 3 Dest encontraram-se na estrada por volta das 13h00, tendo o Dest C seguido para o Xitole e os Dest B e A para Mansambo em coluna apeada (até à Ponte dos Fulas e ponte do Rio Bissari, respectivamente).

Em resultado da acção das NT, o IN teve 2 mortos prováveis e vários feridos confirmados, além dum capturado (4).

O IN manifestar-se ainda nos subsectores de Xitole Mansambo:

(i) a 19 (montando 2 minas A/P, na estrada, das quais uma foi accionada por uma viatura, com rebentamento de pneu, e a outra detectada e levantada, verificando-se pela sua análise que estava completamente nova);

(ii) a 20 (fazendo um pequeno grupo vindo do sul queimadas na região de Moricanhe);

(iii) e a 21 (flagelando de sudoeste o aquartelamento de Mansambo durante meia-hora, com Mort 82, lança-rockets e armas automáticas, sem consequências).
__________

Notas de L.G.

(1) Vd. posts de:

15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII:Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli

9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXI: Op Lança Afiada (1969) : (ii) Pior do que o IN, só a sede e as abelhas

9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIII: Op Lança Afiada (1969): (iii) O 'tigre de papel' da mata do Fiofioli

14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal

(2) Na margem direita do Rio Corubal, entre os Rios Bissari e Pulom. Vd. mapa do Xime

(3) Também conhecido por Darsalame, junto ao Rio Pulom, e antes de Satecuta .Vd. mapa do Xime

(4) Informação complementar, fornecida pela história do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70): Esta operação envolveu 3 grupos de combate da CAÇ 12, mais 2 da CART 2413 (Xitole) e 3 da CCAǪ 2404 (Mansambo).

O acampamento de Satecuta tinha vestígios recentes, tendo sido abandonado há cerca de uma semana.

O prisioneiro, de nome Jomel Nanquitande, foi deixado para trás pelos seus companheiros, que no entanto recuperaram a sua arma. O seu ferimento não era grave, aos olhos de um tuga. Após uma semana de recuperação e de interrogatórios, o Jomel seria obrigado pelas NT a participar como guia para um assalto de mão ao acampamento IN de Ponta Varela que conhecia bem [, a sudoeste do Xime, na direcção de Madina Colhido]: Op Borboleta Destemida (CCAÇ 12, a 4 GR Comb + CART 2520, a 2 Gr Comb, 13 de Janeiro de 1970).

Devido ao muito cansaço dos Destamentos A e B, "alguns homens tiveram que ser recolhidos em viaturas no Rio Bissari".